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Foto do escritorEduardo Stehling

Cultivando florestas de cedro australiano

Atualizado: 17 de jul. de 2020

Eduardo Stehling, Biólogo e gestor de melhoramento da Bela Vista Florestal

Publicado na revista Campo e Negócios Ano IV nº24 - Maio-Junho 2016





O cedro australiano assim como muitas culturas é exigente em tratos culturais, necessários para se trabalhar dentro do potencial produtivo da espécie. No artigo anterior, “Implantando florestas de cedro australiano”, abordei uma série de aspectos da cultura do cedro e suas diferenças e peculiaridades com relação a outras espécies florestais, como o eucalipto. Neste artigo, sigo a mesma linha, trabalhando com os pontos principais do manejo da cultura já implantada.


Por onde começar


Em quase todas as culturas florestais os tratos culturais são necessários na fase de implantação, período este que dura pelo menos 3 anos após o plantio em se tratando de cedro australiano. Estes tratos variam muito com relação às necessidades da cultura, do tipo de sítio implantado, da cobertura vegetal da área, da presença de formigas, de parâmetros físico-químicos do solo, etc. São muitas variáveis. Assim, o manejo não pode ser fixo. A necessidade de correções, adubações, controle de mato-competição, controle de formiga, etc, deverão ser vistos caso a caso, especialmente para não interferir na produtividade, não gerar custos desnecessários ou negligenciar demandas importantes dentro da atividade.


Na prática, muitas vezes o silvicultor iniciante convicto do potencial de seu sítio e/ou desconhecendo o manejo a ser realizado, faz o plantio da área e não faz mais nada depois. A falta de conhecimento sobre os padrões de crescimento da espécie faz com que ele acredite que está tudo bem, até que 3 a 5 anos depois os problemas acontecem. Esta é uma curva de aprendizado no meio florestal que deve ser evitada, e é comum ocorrer com eucalipto, cedro e outras espécies. Tudo passa então pelo planejamento do projeto, noção de custos e operações ao longo do tempo e sua execução.


Implantação


O período de implantação ideal do cedro é de 4 anos. Um importante diferencial do cedro com relação às outras culturas é a sua demanda por solos corrigidos dentro dos parâmetros exigidos pela espécie. Este tópico já foi abordado anteriormente. Saturação por bases em torno de 60%, ausência de alumínio, boa relação cálcio/magnésio são parâmetros que não podem ser obtidos apenas olhando para o solo e que na maior parte das vezes não são corrigidos com uma única calagem. Então é necessário buscar dentro dos três primeiros anos a adequação destes parâmetros. Às vezes são necessárias 3 correções dentro do período de implantação. As correções são feitas através de calagens e gessagens recomendadas a partir de resultados de análises de solos, conforme já colocado no artigo “Importância da calagem e gessagem na cultura do cedro australiano”, de dezembro de 2015. A questão é que sem a adequação do sítio de cultivo, o desenvolvimento das árvores será inferior.


Da mesma forma as adubações de cobertura se fazem necessárias no período de implantação. Lembro que nenhuma adubação deve ser realizada sem o devido controle de mato competição, pois representa desperdício. As adubações de plantio são as mais importantes e são parceladas em 3 vezes, com intervalos de 30, 60 e 90 dias após o plantio. A dose total para o primeiro ano normalmente é 150 g/planta de NPK 20-00-20, ou seja, 50g/planta em cada aplicação. As análises de solos realizadas entre julho e setembro de cada ano irão determinar as adubações necessárias para os anos seguintes, permitindo fazer um uso mais racional dos adubos.


Os micronutrientes


Da mesma forma que no eucalipto utiliza-se o boro, o uso de micronutrientes no cedro australiano também é muito importante. Normalmente são usados formulados de solo de solubilidade mais baixa como o FTE (óxidos silicatados), pois são mais completos e sua liberação no solo é mais lenta. Evite o uso de sais ou quelatos, pois o aproveitamento pode ser muito pequeno via solo, sendo mais adequados para pulverizações foliares. As doses variam conforme a idade das plantas e a necessidade verificada em análise.


Mato-competição


O controle de mato competição é um dos fatores que mais pesa no desenvolvimento das árvores de cedro australiano, independente da idade. A grande eficiência da vegetação espontânea pode criar depressão de crescimento das plantas, eventos de senescência fora de hora e impedir o desenvolvimento pleno do sistema radicular e copa. Múltiplos métodos podem ser usados para o controle e não se deve nunca perder de vista qual vegetação que se está tentando controlar. De forma geral, no início do cultivo a vegetação é formada por gramíneas (plantas de folha estreita). Com o controle a composição de espécies no local muda, prevalecendo plantas de folha larga, como o picão e a trapoeraba. A melhor medida para o controle permanente do mato é garantir o pleno desenvolvimento da copa e o sombreamento da área, inibindo assim a vegetação competidora. Isto normalmente ocorre em três anos de cultivo adotando o espaçamento de 12 m²/planta.


Manejo


A melhor forma de fazer o controle do mato então neste período é combinar métodos mecânicos e químicos. O cedro é sensível a vários herbicidas. Sendo assim, no primeiro ano, quando a copa da planta está baixa e sujeita a intoxicação, recomenda-se a capina mecânica ou uso de herbicidas seletivos como o haloxifope. Nos anos seguintes outros herbicidas podem ser utilizados, sendo contraindicado o uso de 2,4-D e sal dimetilamina. Lembro que a maior causa dos problemas com o uso de herbicidas não está ligada ao principio ativo apenas, mas sim à vazão, bicos, altura da vegetação, altura da cultura, vento, etc. Busque o auxílio de um profissional para auxiliá-lo.


As formigas


O controle do mato propicia um eficiente controle de formigas dentro da área. Existem diversos métodos indicados para cada espécie/situação, mas o que considero mais importante neste momento é o tipo de dano que elas causam. Formigas cortadeiras, principalmente saúvas e quem-quens removem todas as folhas das plantas, causando atraso no desenvolvimento e induzindo brotações até em florestas já formadas. Quando o ponteiro é danificado, a planta perde a dominância e brota descontroladamente, o que pode afetar sua forma florestal. Nestes casos é necessária a intervenção através da desrama de condução, especialmente nos 2 primeiros anos.



Eduardo Stehling em uma floresta de cedro australiano (clone BV 1110) com 3,2 anos de idade.

A desrama


Já escrevi dois artigos para a Campo e Negócios falando sobre a desrama e seus aspectos. Neles ressaltei a importância de se preservar os galhos ao máximo para formar plantas saudáveis. Uma das maiores medidas da saúde de uma planta de cedro é o volume e vigor de sua copa. Entretanto a forma das árvores não deve ser comprometida, sendo necessários 6,5 m de fuste livres de nós para a produção comercial. Isto pode ser obtido com desramas leves até a planta completar 1,5 anos, quando no segundo inverno, uma poda mais pesada poderá ser realizada. O normal é que até o quarto inverno todas as intervenções de poda necessárias já tenham sido realizadas. As plantas já terão o fuste comercial formado e deverão apresentar grande volume de copa, fundamental para sua saúde e controle do mato.


Desbastes


Desbastes também devem ser realizados neste período de implantação. Plantas quebradas, sem forma ou que até o terceiro ano não apresentam vigor por alguma razão, devem ser eliminadas racionalizando o estande. A desuniformidade em plantios clonais de cedro pode ter múltiplas causas, por isso o estande inicial parte de 816 plantas/ha sendo esperado que a partir do 4º anos existam 600 plantas superiores no estande para desenvolvimento pleno. Isto diminui custos e reduz a mão de obra necessária.


Mais uma vez


Com a entrada do inverno é importante realizar o último controle de mato aproveitando o início da estiagem. O fim das chuvas requer a preparação de aceiros a fim de prevenir incêndios florestais. Neste período o produtor pode aguardar pela transformação da paisagem em sua lavoura e observar com tranquilidade a queda das folhas entre maio e agosto, fenômeno chamado de senescência. Em setembro, as folhas retornam mostrando o vigor dos tratos realizados no período anterior, preparando a floresta para um novo salto de crescimento e produtividade.





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